Encontros necessariamente desnecessários

Encontros necessariamente desnecessários

EDITORIAL

Há mais de trinta anos, sob a liderança do Dr. Olindo de Lucca e retaguarda do Dr. Milton Pereira de Almeida, nascia o Rotary Club de Limeira Sul. O que, para nós, seria o começo, na verdade era o apenas o auge deste clube internacional de serviços, anos depois experimentando um declínio em função de diversos acontecimentos, vamos dizer assim. A erradicação da poliomielite era um motivo nobre para empreendermos esforços, especialmente na arrecadação de recursos; no mais, desfrutávamos de agradáveis reuniões semanais, sempre regados a jantares como pedia a tradição. Em sua primeira década de vida, o Rotary Sul teve um revezamento de presidentes e de membros de seus principais cargos, como secretário e diretor de protocolo, porém, passada essa época, uma geração, digamos intermediária, teve que entrar em campo. Os mais antigos, fiéis às origens do movimento e mais próximos aos orientadores da fundação, começaram a estabelecer pequenos embates, semânticos, bom dizer, com os novatos. Pouco a pouco essa insatisfação afastou boa parte do primeiro pelotão e, no limiar da segunda década, poucos continuaram no clube.  Muitos porque ficaram desmotivados com a falta de rigor, em maior número, e outros que não viam mais sentido saírem de suas casas apenas para jantar, e não mais para contribuir ou aprender. Uma boa reunião sempre foi a chave de sucesso de um Rotary Club, pois ela deveria ser equilibrada. Em primeiro lugar, mantendo o rigor do tempo:  uma hora. Em segundo, a manutenção do conteúdo, deliberativo ou institucional. Finalmente, essas reuniões deveriam transitar pelas diferenças com elegância, seguindo um protocolo que o próprio clube pautava. Nesta semana, líderes mundiais estarão envoltos em duas conferências simultâneas. No Brasil, o G-20; no Azerbaijão, a COP-29. Ambas possuem o fio condutor de levar nada a lugar algum. Em nosso caso, talvez o pronto mais esperado seja o encontro dos presidentes do Brasil e dos Estados Unidos, apenas para fotografias; em Baku, apenas o pânico diante da chegada de um negacionista climático à presidência, Donald Trump. O Rotary ensinou, por linhas tortas, que seus fundadores sempre davam as cartas; quando perderam essa força, deixaram o clube. Não é diferente das discussões sobre a erradicação da fome e das compensações de carbono. Essas conferências, por mais que produzam simulações e caminhos para um planeta mais justo e equilibrado, não possuem o condão de obrigar as nações mais ricas e poluidoras a reverter um quadro deliberadamente irreversível. Na prática, como nas reuniões rotárias, servirão apenas para faustosos gastos de suas comitivas, muito bla-bla-bla e nenhum resultado concreto. Na prática, a vida é outra.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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