Ninguém defende a vida, favorecendo a morte
Antonio Claudio Bontorim
JORNALISTA
claudio.bontorim@tribunadelimeira.com.br
“Vamos dar mais um passo hoje para fortalecer a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) na Câmara dos Deputados. A PEC 164/12 tem por objetivo de proteger a vida desde a concepção. Como membro da Frente Parlamentar Católica, cristão e vicentino, eu defendo o direito à vida como princípio fundamental. Que Deus abençoe e vamos em frente”
Miguel Lombardi (PL), deputado federal por Limeira.
Para quem não se lembra, a PEC 164/12, foi apresentada em 2012 pelo então deputado Eduardo Cunha (MDB), o que mesmo que proporcionou um “golpe parlamentar contra a então presidente Dilma Rousseff (PT)” – embora muitos experts, ou seriam espertalhões, aplaudiram muito, em especial os políticos do PSDB – causando seu impeachment em 2016. Agora ela volta a ser pautada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), pela sua presidente, a também deputada de extrema-direita do PL-SC, Carolina de Toni, e será discutida nesta terça-feira, 12.
Mais uma vez, para quem não se lembra, ou não são sabe ou insiste em ignorar, como é o caso do deputado limeirense, autor da postagem em seus stories no Facebook, destacada no início deste artigo, que gosta de aparecer em fotos como garçom, servindo comida ao ex-presidente pefelista Jair Bolsonaro, essa PEC proíbe o aborto nos casos já previstos no CP (Código Penal) e na jurisprudência do STF (Supremo Tribunal Federal). Então vamos refrescar a memória daqueles que se dizem cristãos, contra o aborto e a favor da vida e o que isso significa.
Hoje o CP e a jurisprudência formados pelo STF, permite o aborto em três casos. A saber, anencefalia fetal, que é quando uma malformação do feto leva à ausência de cérebro, calota craniana e couro cabeludo e que impede qualquer possibilidade de o bebê sobreviver, mesmo se chegar a nascer; na gravidez resultante de um estupro e no risco de morte da gestante, ou seja, da futura mamãe, que nem pode chegar a ser!
Aí eu, na minha ignorância de jornalista com quase cinco décadas de experiência e muitas matérias feitas, pergunto ao iminente deputado Miguel Lombardi, o Miguelzinho, como os limeirenses o tratam: então, deputado, você é a favor de que crianças anencéfalas nasçam para viver apenas um, poucos dias ou semanas? É a favor de que mulheres estupradas carreguem no ventre o fruto de uma violência? E, finalmente, você é a favor de matar a mãe, para que o filho nasça?
E uma última e crucial pergunta, já que o nobre deputado se intitula católico, cristão e vicentino, (ligado a Associação São Vicente de Paulo): você e a favor da vida ou da morte? Ou do crime? Já que prega o apoio a uma PEC, que vai fazer com que um bebê nasça e morra, sem qualquer possibilidade de vida? Que seja fruto de uma adolescente ou mulher estuprada, ou a mãe morra ao dar à luz?
Não é contraditório, nobilíssimo deputado, que se defenda a vida, pregando a morte ou o crime? As respostas são suas.
Não custa dizer, também, que Essa PEC intitulada “da Vida”, previa, anteriormente, que o aborto, mesmo legal, fosse equiparado ao homicídio. Ou seja, a gestante corre risco de morte e precisa abortar para poder sobreviver e, se assim o fizesse, iria se julgada por homicídio, assim como o médico. Se isso não for uma incongruência – sabe o que é incongruência, deputado? – o que será? Ora, para os fundamentalistas cristãos é apenas defender a vida.
Para finalizar essa análise, e mostrar como nossos parlamentares estão cada vez mais imbuídos em apresentar uma realidade paralela dissonante com os tempos atuais, em vez de trabalhar para o desenvolvimento do país, mais duas perguntas simples e dirigidas: Um pai ou uma mãe, que tivesse uma filha adolescente estuprada, gostaria de ver sua filha dando à luz a um fruto de um crime hediondo? Ou um marido, cuja esposa também foi vítima de estupro, assumiria a paternidade desse crime?
Eu, com certeza, não!