Quando a civilidade é a melhor opção
Antonio Claudio Bontorim
JORNALISTA
claudio.bontorim@tribunadelimeira.com.br
Donald Trump, do Partido Republicano, foi eleito como o 47º presidente dos EUA, os Estados Unidos da América, a maior economia do mundo e, por enquanto, a maior democracia do Planeta. Por enquanto por que ninguém sabe, ainda, como o agora eleito vai agir, do ponto de vista político, com maioria no Senado e, provavelmente, maioria na Câmara também. Ou seja, poderes ilimitados para um grande populista, que se apega a pequenos detalhes, para extremar sua xenofobia e misoginia. Entre outros tipos de preconceitos.
Fala-se muito. Analisa-se muito e as projeções são as mais diversificadas e sob todos os espectros políticos. Mas de tudo isso, ficou uma grande lição, que todo chefe de Estado tem que dar aos seus governados. Ou seja, cumprimentar um futuro governante de qualquer nação, independentemente de sua ideologia. Lembremos que o próprio Trump até hoje não reconheceu a sua derrota em 2020. Assim como o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que fugiu (fugiu, sim, não tem outra definição) do Brasil para os EUA, três dias antes de passar a faixa presidencial. E não reconheceu, também até hoje, a vitória do atual presidente Lula (PT).
Lula, ao contrário de Bolsonaro, cumprimentou Trump uma hora e meia depois das primeiras projeções indicarem a vitória do Republicano – que foi de lavada, diga-se – reconhecendo sua vitória e, principalmente, conclamando-o para o diálogo e para a união dos povos. E reafirmando o preceito democrático de que foi uma eleição limpa e por isso deveria ser reconhecida. O que Trump e Bolsonaro, quando perderam, não o fizeram. Um lá e outro aqui.
Pode-se não gostar, não concordar e até mesmo odiar o Lula, embora o ódio não devesse entrar na formação do ser humano, mas ninguém pode deixar de reconhecer que ele sabe se portar como um chefe de Estado. Neste caso, presidente da República Federativa do Brasil. Lula tem uma percepção de mundo, que Bolsonaro não tem, que a grandeza de reconhecer-se na derrota e não tripudiar sobre os adversários nas derrotas. Em resumo, Lula se comporta como um presidente da República. E deu exemplo disso, aliás, o melhor exemplo. Ou mais explícito ainda, uma aula de civilidade.
Enquanto isso, Bolsonaro acredita que Trump forçará o STF a lhe conceder anistia, para recuperar a Presidência da República em 2026. Ele ainda não se aceita inelegível (até 2030) e, em uma entrevista à Folha de S. Paulo, publicada nesta quarta-feira, 7, voltou a delirar em seu ‘conhecido desconhecimento’ do funcionamento das instituições democráticas. Para ele, a última palavra deve ser sempre do Congresso Nacional, depois a do Poder Executivo e, por último, do Judiciário, que para ele é apenas um mediador de conflitos.
Não é aqui assim e também não é assim nos EUA. Aqui, com o STF (Supremo Tribunal Federal) e lá com a Suprema Corte. E ponto final!
Se Trump é, de fato, uma ameaça à democracia norte-americana, cuja constituição tem 237 anos, só o tempo dirá. Uma constituição forte que, até hoje, sofreu apenas 27 emendas, não pode ser desrespeitada. O futuro presidente pode até querer burlá-la, mas será que os congressistas, mesmo os do seu partido e seus fiéis seguidores, aceitariam isso. Se Trump está disposto a ser um futuro Putin [Vladimir Putin, presidente-ditador da Rússia] ou Maduro [Nicolás Maduro, outro ditador, este aqui na Venezuela, vizinha ao Brasil], não se sabe ao certo.
A questão é se ele terá cara de pau o suficiente para tentar se sobrepor à histórica constituição norte-americana. O que se sabe, de antemão, é que ele vai ‘governar’, primeiro para os EUA e, depois, o resto do mundo que se exploda. Assim como Bolsonaro, Trump é um anti-globalista, que acha que pode construir muros para isolar seu país e tudo fica como está. Ninguém vive sozinho, isolado nos seus devaneios, admirando o seu próprio umbigo. O restante do corpo também precisa de atenção.