A influência diferente do jornalismo

A influência diferente do jornalismo

EDITORIAL

Desde que escolhi produzir conteúdos jornalísticos exclusivamente para a internet fiquei diante de uma decisão que me pareceu importante: ser escravo da chamada “audiência” e consequentemente fazer um papel que nunca fiz ou, aquilo que decidi, continuar exercendo o jornalismo convencional: responsável, crítico e honesto. Arrependimento, neste caso, não cabe, por uma razão muito simples: a comunicação mudou, e restam poucas saídas para os dinossauros como são chamados os remanescentes da minha geração. Por exemplo: antigamente, o máximo que um jornalista conseguia produzir fora do chamado quadrado era o chamado “bordão”. Boris Casoy emplacou o “isso é uma vergonha”, Datena o grotesco “só no nosso” e assim muitos deles foram deixando suas marcas, porém, até onde tenha visto ou ouvido, ninguém dessa geração precisou criar um “personagem”. Ou seja, em nome da credibilidade alcançada depois de anos de trabalho, ninguém quer se expor ao ridículo, a mentir deliberadamente, fazer palhaçadas no pior sentido da expressão ou, lamentável, dar a impressão de ter mudado sua própria personalidade. Tudo se faz em nome do bom jornalismo, que necessariamente não busca cliques ou likes, mas há um problema – e por isso fazer uma opção é sensato –: como galerias não dão voto ao político, o jornalismo convencional não é rentável do ponto de vistas particular. É mais fácil que um sujeito polêmico, sem papas na língua, que use um linguajar chulo e diga muitos palavrões ganhe o estrelato comparado a nós, sensatos. As mídias sociais, para se autoalimentarem, precisam disso: polêmica e escracho. E seus interlocutores, que nasceram na geração digital, sabem disso e não se incomodam com o ridículo, com a iminência de processos e problemas adicionais que possam causar. Aqui mesmo em Limeira existem vários desses exemplares, especialmente do gênero feminino, que fazem muito sucesso nas redes. Em Búzios, por exemplo, topei com o sujeito que está ganhando a vida revendendo produtos que são apresentados por uma influenciadora daqui: “As pessoas acreditam no que ela indica”, disse ele, casado com uma limeirense. Portanto isso não é jornalismo; é comércio. Isso se aplica a Pablo Marçal: ele não é político ou candidato; é um jogador, um pescador de apoiadores que apreciam seu modo de agir, incluindo grosserias, arrogância, sua aparente coragem e compram os produtos que ele vende ou indica. No caso de São Paulo, a imagem de um prefeito “fora do sistema”. O filme Tropa de Elite fez muito sucesso porque revelou a inutilidade de se enfrentar o “sistema” e o Capitão Nascimento tinha toda a razão. Ao bom e velho jornalismo, que tudo acompanha, só resta revelar suas faces e prosseguir com sua nobre missão, sem confundir seus objetivos.

Roberto Lucato

Ilustração: Reprodução Facebook Pablo Marçal

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