Debate: vazio, mas civilizado
EDITORIAL
Por dever de ofício acompanhei atentamente o debate entre os prefeituráveis de Limeira realizado pela rede Bandeirantes, exibido nesta quarta-feira, 4. Se fosse uma partida de futebol, dificilmente os editores encontrariam os chamados melhores momentos, isso devido ao receio que todos tiveram de abraçar o confronto mais deliberado. O clima foi respeitoso até demais. Do ponto de vista técnico, Betinho Neves, Murilo Félix e Luiz Mitsunaga estiveram no mesmo patamar, com estilos parecidos. Neves reproduz aquilo que aprendeu em cursos de oratória, e verbaliza seus pensamentos com assertividade que beira a imposição; esbarra, com isso, na ideia de agressividade. Murilo está melhor em relação ao pleito passado. Parece, também, ter melhorado a memória, trabalhando números com facilidade, porém, à exemplo de Neves, não esboçou um único sorriso. Esboçar seriedade não requer, exatamente, imitar um buldogue. O mesmo se pode dizer do petista Mitsunaga. Porém, comparado aos dois rivais, ele teve um desempenho mais natural e foi aquele que conseguiu trazer à baila diversos aspectos negativos da administração atual, entre os pontos principais, mobilidade urbana e educação. Quanto à candidata Erika Tank, seu desempenho foi curioso, para se dizer o mínimo. A candidata do PL parecia presa às instruções que recebeu de seu staff de campanha, e pior: parecia uma aluna expondo suas ideias junto ao quadro negro avaliada por seu professor, no caso, por Mario I. Qual fosse o assunto, Érika dirigia suas respostas exclusivamente ao universo feminino, tentando por todas as formas vincular sua imagem a de sua mãe, Elza Tank. Um esforço respeitável, mas inútil: a saudosa política falava com enorme firmeza e não distribuía sorrisos o tempo todo com fez a filha. Depois de cada resposta ou intervenção, ela encerrava sua fala como garota propaganda de alguma marca de dentifrício. Como representante da atual administração, também lhe faltou demonstrar, em números e estatísticas, aquilo que o seu superior fez até agora. Por exemplo, quando perdeu a oportunidade de esclarecer o empréstimo conhecido como Finisa, que deixou Limeira endividada pelas próximas gerações. Uma curiosidade. Assim como boa parte do eleitorado não conheceu o trabalho desenvolvido pela vereadora e ex-deputada Elza Tank, muitos também sequer se lembram que o pai do candidato Murilo foi cassado. Pior que isso: é recordista em condenações, entre elas, uma que pede a devolução de mais de 250 milhões aos cofres públicos. Ninguém teve coragem para perguntar ao candidato se, eleito for, quem cuidará do erário, ele ou o pai. Pergunta, por sinal, que também caberia à candidata do PL: se o imperador Mário I continuaria a comandar o Edifício Prada caso seja eleita. Em resumo, tivemos um debate civilizado, com poucas emoções e, infelizmente, propostas. Talvez a que tenha ficado mais na mente dos espectadores, a ideia de Mitsunaga de zerar a tarifa do transporte público em determinadas ocasiões e para determinados públicos. Murilo reiterou sua preocupação com autistas, não abandonou a bandeira do universo pet e quanto a Betinho, sem apresentar algo inédito, ao menos se lembrou de valorizar sua vice, a Dra. Mayra Costa. Foi o que tivemos.
Roberto Lucato
Ilustração: Reprodução de imagem