Barulhenta indecisão

Barulhenta indecisão

EDITORIAL

Quando recebeu o ditador Nicolás Maduro no Palácio do Planalto, dividindo com ele o mesmo tapete vermelho, o presidente Lula não fez apernas um agrado ao seu amigo, banido pelo governo antecessor: ele fez uma sinalização. Como não se cansou de bradar a jornalista Eliane Cantanhede, “o Brasil voltou”. De fato, desde a posse até agora – com todo o direito de agir assim – Lula reimplementou no Brasil a ideologista progressista do PT. Questões ambientais, igualdade de gênero, direitos humanos, estatizações e toda a ladainha esquerdista voltou com toda a sua força midiática, porém, Lula encontrou um mundo diferente para chamar de seu, agora no tocante à política internacional. Não bastassem os embaraços nos quais se envolveu ao tratar os conflitos entre Rússia/Ucrânia e Hamas/Israel, Lula tem que encontrar, agora, uma saída honrosa para referendar ou não a eleição de Maduro. E por que ele? Exatamente por sua proximidade com o ditador venezuelano. Lula enviou ao país um observador de grosso calibre, Celso Amorim, que até agora não se manifestou publicamente – o que indica que apenas “observou” o processo eleitoral. E, de maneira desastrosa, insinuou durante entrevista que os derrotados deveriam procurar a Justiça para demonstrar que foram lesados, se é que foram. Enquanto isso, Maduro se aproveita deste cenário complexo e nebuloso como pretexto de “colocar ordem” na Venezuela, com as forças armadas nas ruas para reprimir as manifestações contrárias ao resultado. O que de fato é curioso nesta história toda diz respeito à vitória do “socialismo” saudado pelo partido do presidente, o PT. Como defini-lo na Venezuela? Mais de seis milhões de venezuelanos estão vagando pela América do Sul por falta de comida, emprego e renda. Dá para afirmar que existe política social na Venezuela? Será que Maduro nunca ouviu falar de Bolsa Família ou da Renda Mínima do Eduardo Suplicy? A que ideologia pertence este soberano? Parece que a nenhuma, como tudo leva a crer que os relatórios individualizados das urnas, se um dia aparecerem, estarão devidamente adulterados. E assim, jamais a comunidade internacional saberá o que aconteceu porque a Venezuela é soberana como Estado. Em tese, como Nicarágua, Cuba, China e Rússia, não deve satisfação a ninguém, sequer ao próprio povo. Lula está no epicentro deste furacão, e como sairá dele é difícil prever.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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