Limites da ousadia
EDITORIAL
A ousada cerimônia de abertura dos Jogos de Paris ainda suscita muitos comentários, para o bem e para o mal. É claro que o fato de inovar não significa o mesmo para todas as pessoas, por isso existem milhões que detestam coisas fora do eixo, vamos dizer assim. Porém, se a inovação fosse proibida, os avanços tecnológicos não existiriam e mesmo no setor esportivo, recordes obtidos no início do século passado ainda estariam valendo. A França inovou. Fez uma espécie de um roteiro cultural pelo emblemático rio Sena no qual percorreram embarcações com representantes das delegações, porém, deu um destaque artístico um tanto exagerado em detrimento das estrelas da competição, os atletas. Por isso até agora há uma clara divisão entre as opiniões, mas existe uma, em especial, que parece ter recebido um conjunto de críticas um tanto mais concentrado. Paris exaltou sua arte, seus museus, cafés, cabarés, cientistas, pesquisadores, criadores de moda, porém, teve um péssimo gosto ao convocar representantes dos movimentos LGBT para representarem uma das obras mais conhecidas do mundo, a Santa Ceia. Obviamente quem planejou essa caracterização teve por objetivo causar essa polêmica, provavelmente porque, se não é, trata-se de um admirador e ativista da causa. E isso parece ser um fenômeno destes tempos de conflagrações, mas não só agora isso acontece. Anos atrás, um pastor evangélico causou um verdadeiro tumulto ao chutar, em uma emissora de TV, uma imagem de Nossa Senhora, dizendo que aquilo era apenas uma estátua de barro. Pois bem. Uma das primeiras regras da convivência é que a ideia de uns não se sobreponha as ideias dos outros por imposição, violência ou pela desconstrução de um conceito, neste caso ligado à fé. Os católicos têm o direito de exibir correntinhas com imagens em seus peitos, como também possuem a liberdade de montarem, em suas casas, pequenos altares com as imagens que desejarem; não têm o direito, em função disso, de entrar em uma casa de evangélicos recomendando que façam o mesmo. Cada um deve cuidar do seu próprio quadrado, e neste ponto os organizadores dos Jogos erraram feio. Inclusive porque o ponto mais comentado da abertura passou a ser esse, e não a impecável sincronia entre sons, luzes e fogos de artifício. Evolução nem sempre significa progresso positivo, pois há pacientes que evoluem para o óbito, não para a alta hospitalar.
Roberto Lucato
Ilustração: Wikipédia