“Rosqueta” da “parafuseta”
EDITORIAL
As lendas urbanas não nascem à toa. Algumas são, simplesmente, o resultado de casos sucessivos contados por muita gente, ao mesmo tempo. Uma delas diz respeito as oficinas mecânicas. Reza a lenda que todas as mulheres são enganadas quando comparecem sozinhas em busca de um reparado para seus carros. É que, por serem menos familiarizadas com os componentes do carro, aceitam qualquer explicação do mecânico. E provavelmente daí nasceu a “rosqueta da parafuseta”, ou seja, algo que não existe, vendido como o problema a ser resolvido. Vamos aos exageros dessa lenda. Primeiramente os mecânicos, em regra, não são desonestos. Podem não ser bons, mas desonestos, não. Segundo: mulheres não são fáceis de cair no conto da “rosqueta”, porque são meticulosas e fazem o que os homens às vezes se esquecem, pedir orçamento para pesquisarem. Finalmente, será que os conhecimentos da maioria dos homens vão além de calibrar pneus e aferir o nível do óleo? Duvido. Assim sendo, carros não quebram por um conjunto de problemas, portanto o ponto principal é identificar a origem. Esse raciocínio é aplicável, igualmente, às polêmicas ideológicas, a mais recente, sobre o porte e consumo de drogas. Observem quantas “rosquetas” existem aqui: 1- Tecnicamente, alguém explicou o que significa para um usuário consumir, 3, 6 ou 60 gramas de maconha? Isso é equiparável a um, dois ou um pacote de maços de cigarros por dia? 2- Quais as diferenças entre os efeitos da maconha comparados ao consumo de corotes de pinga? Esses dias duas moças bem-comportadas, com pena de homem de rua, aceitaram seu pedido e lhe ofereceram logo dois! 3- Alguém pensou em aumentar a punição do porte aos menores de idade, que frequentemente são usados por traficantes para a distribuição do produto? Ou eles são vítimas da sociedade, também? 4- Existem estatísticas, por exemplo na violência do trânsito, indicando que pessoas sob a influência da maconha causem mais acidentes em comparação com embriagados? Ou seria o contrário? 5- Afinal de contas, qual o objetivo de ministros do STF e das frentes parlamentares? Combater ou controlar o consumo? Regulamentá-lo? Inibir o tráfico? Se esses mecânicos não sabem onde está o problema do carro, seria melhor que fossem sinceros, dizendo aos homens e mulheres, que estarão apenas tentando, sem saber o que fazer.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik