O povo pelo povo
EDITORIAL
Um dos propósitos da televisão aberta é entreter, assim como antigamente se dava com o rádio, e é difícil imaginar que os telespectadores aplaudam totalmente as chamadas grades. Por isso uma das maiores invenções a favor da liberdade foi o controle remoto, pois oferece a comodidade de mudarmos de emissora com um simples clique. Estava nesta situação no último domingo, passeando pelas emissoras quando vi uma imagem do Maracanã. Porém, parte da manhã, enquanto fazia exercícios, acompanhei pelo rádio uma entrevista feita com Luciano Huck a respeito do “jogo da solidariedade”. Ele seria o “apresentador” de uma partida de futebol que reuniria artistas e ex-jogadores, cuja arrecadação seria destinada às vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul, e pensei: “agora é que não assisto mesmo”. Particularmente considero Huck um “fanfarrão” que deu certo, e não seria ele a me convencer a assistir pagodeiros e “funkeiros” no Maraca, mas estava errado. Não sobre Huck. No chamado “pré-jogo, várias celebridades foram passando em uma espécie de “zona mista”, oferecendo depoimentos e não escondendo a euforia pelo momento. Entretido, decidi esperar o apito do árbitro e uma festa comparável aos jogos da Copa do Mundo aconteceu, com direito a execução do hino do Rio Grande do Sul, inclusive. Em campo, além dos “artistas” – minha mulher ia dizendo quem eram –, estavam craques que fizeram acontecer, como o próprio técnico Carlos Alberto Parreira, que se recupera de grave enfermidade. Revi Ricardinho, o “capetinha” Edilson, Adriano Imperador, Roger Flores e tantos outros que davam tratos à bola. Ronaldinho Gaúcho foi um caso à parte; não apenas deu um show como fez gols e fez questão de agradecer a presença dos torcedores. Torcida que, por sinal, não se fartou de exibir mensagens de apoio aos gaúchos, e foi difícil conter a emoção. Fiquei penando que, de fato, as coisas acontecem neste país quando é “o povo pelo povo”. Quando não inventa muito, quando não se burocratiza demais e quando as proibições são menores que as permissões. Foi um espetáculo belíssimo e de grande representatividade, que sem dúvida, quem o acompanhou do sul do Brasil, recebeu bons fluídos e o reconhecimento de irmãos brasileiros, juntos no auxílio desta tragédia.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik