Todas as formas de amar
EDITORIAL
Pertenço a uma época na qual “bichas”, “veados” e “efeminizados” pertenciam a uma espécie de segunda categoria de humanoides. Humoristas como Costinha, Ary Toledo e Juca Chaves incluíam em seus repertórios inúmeras piadas com representantes deste segmento social, para delírio de todos que as ouviam. Os “gays”, porém, surgiram bem depois, por sinal, definição muito bem aproveitada por Jô Soares no impagável “Capitão Gay”, e depois de um certo tempo – não conseguiria precisar o ano, mas creio que foi no final da década de 1980 – houve uma corrida “para fora do armário”, jargão utilizado para quem assumia uma nova identidade sexual. Deu-se, então, uma primeira reviravolta, anos mais tarde materializada nas famosas marchas realizadas na Avenida Paulista, em São Paulo. As próprias novelas, seriados e “especiais” contribuíram de maneira significativa na pacificação deste assunto, longe de incluir somente plumas e paetês no comportamento homossexual: os textos passaram a examinar o comportamento afetivo, social e sentimental destes personagens. Ou seja, a TV e o cinema “humanizaram” este universo homossexual, antecipando cenas e situações que a cada dia são mais corriqueiras. É claro que não ainda existem muitas pessoas que ainda se “chocam” com algumas situações para muitos constrangedoras, por exemplo, observando cenas de romance explícito entre a filha de um poderoso político de Limeira e sua namorada no último Rodeo – “choque”, bem e entendido, não exatamente pelos beijos e abraços, mas pelo excesso, inadequados para aquele espaço, como estariam entre um homem e uma mulher. Entre trancos e barrancos, portanto, a sociedade se moderniza, melhora e se oferece mais tolerante e sensível. Compreende que a opção sexual é apenas isso, nada mais, e que por trás de cada pessoa existe alguém que possui esperanças, medos, angústias, tristezas, frustrações, expectativas, amor e humanidade. Exatamente como qualquer um, comprovando porque aquilo que acompanhei dia desses, em uma conveniência, será cada vez mais normal: uma discussão de relacionamento entre dois homens, um de 25, outro de 35. Devem estar “de mal” até hoje, porque assim acontece com homens e mulheres, biológicos ou não.