Os índios de Lula
EDITORIAL
As chamadas pautas ideológicas que abasteceram os debates nos últimos anos não sobrevivem à toa. De tanto que foram discutidas, nos oferecem oportunidades para reconhecê-las a todo o momento; evidentemente, o engajamento é opcional. Durante a semana, por exemplo, saíram estatísticas sobre o número de índios ianomâmis mortos em 2023, que indicaram um pequeno aumento em relação a 2022. Isso bastou para os comentaristas mais alinhados com o ex-presidente Jair Bolsonaro apontarem seus dedos contra o governo Lula, cujo tema sempre foi caro. Porém, outro debatedor apareceu com um comentário bastante sensato: governos de esquerda, centro ou direita simplesmente não têm conseguido resolver algumas demandas com eficiência, é isso que devemos cobrar, e não comparar seus níveis de competência. Perfeito. É evidente que todos os governantes possuem suas prioridades, que muitas vezes se opõem aos antecessores. Isso normal e até certo ponto é bom para o pluralismo identitário. A questão dos ianomâmis, por exemplo, frequentou com intensidade os três primeiros meses da administração Lula e depois desapareceu, voltando agora com as estatísticas. Daqui a três anos a problemática acabará? Claro que não. Porém, as novas preferências oferecem mais “garantias” para algumas minorias. Estive em Paraty durante o carnaval e uma cena me chamou a atenção: o número de crianças indígenas cantando nas ruas em busca de alguns trocados. Em média elas não tinha mais de 5 ou 6 anos, sempre desacompanhadas de seus responsáveis. Sinceramente, elas cantarolavam uma musiquinha incompreensível, triste e chata, mas até aí, ossos do ofício. O problema é que não aparecia nenhum conselheiro tutelar para avisar isso poderá se classificar como exploração de mendicância por crianças. Do ponto de vista ideológico – e nesse ponto não devemos ceder à tentação de cravar opinativamente –, isso significa que tudo é permitido aos índios no governo Lula? Não. Índios, qualquer cidadão brasileiro pode fazer o que quiser o tempo inteiro, mas desde que não infrinja as leis. No caso das crianças, a exposição é indevida, inadequada e proibida. A fiscalização é que não pode ser ideologizada.
Roberto Lucato