Opostos que se atraem

Opostos que se atraem

EDITORIAL
O poder político associado ao administrativo não mira somente o futuro, mas qualquer outro interesse que possa enfraquecê-lo. Por isso esqueletos no armário estarão sempre à espreita para retornarem à vida, mesmo que isso se transforme em um enorme erro estratégico. Aliás, erro apontado pela jornalista Vera Magalhães em artigo publicado no jornal O Globo. Segundo sua análise, está em curso, de um lado ao outro, uma espécie de culto à polarização, na busca da exposição do certo ou errado. Segundo ela, “as declarações recentes de Lula também mostram um presidente totalmente capturado pela contraposição com o bolsonarismo, como se apenas isso pudesse ser um projeto de governo capaz de assegurar sua reeleição daqui a três anos”. Faz sentido. Quando o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda em campanha, revelou sua intenção de “metralhar a petralhada”, ainda que de maneira grotesca, ele subiu o tom contra o petismo, à época enfraquecido pelo fracasso do projeto “Dilma Rousseff”, a ensacadora, e pela prisão de Lula. Ao capitalizar este estigma, de uma espécie de caçador ou neutralizador de petistas – como Fernando Collor, dos “marajás” –, o ex-presidente se beneficiou do ponto de vista eleitoral, mas era claro e cristalino que ele se transformaria em alvo quando deixasse o poder. A artilharia usada contra Bolsonaro é pesada porque passa pelos tribunais – a perda de direitos políticos foi apenas uma pequena amostra – e pelas agências ligadas ao governo federal. O chumbo virá de todos os lados. Lá atrás, desde a primeira condenação de Lula, a narrativa petista apontava para perseguição política e injustiça. O atual presidente foi “descondenado” e não parece disposto a perder Bolsonaro de vista, criando os mesmos cenários suficientes para transformar vilões em mártires. Com direito à exageros, como indiciá-lo por molestar uma baleia jubarte no Litoral Norte. A continuar assim, seguiremos assistindo a esse “mais do mesmo”, do qual a sociedade parece ainda não ter se fartado.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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