Visita, presidente, e muitas
EDITORIAL
No documentário Visita, Presidente, assinado pela jornalista Júlia Duailibi, que descreve o intervalo entre a prisão e a soltura de Lula em Curitiba, personagens mais próximos do atual presidente prestaram depoimentos sobre todo esse período. Os relatos incluíram a resistência do mandatário enquanto se entrincheirou no Sindicado dos Metalúrgicos de São Paulo; a estravagante missa em memória de Marisa Letícia; a irritação dos agentes da Polícia Federal pelo descumprimento dos acordos e, finalmente, a rotina de Lula na cela, de seus exercícios físicos até as visitas recebidas ao longo de muito tempo, mais exatamente por 580 dias. A humilhação a que ele se submeteu – todo o encarceramento é humilhante – foi interrompida em um primeiro momento pelo pagamento de uma “dívida de gratidão” feito por ministros indicados pelo próprio Lula do STF. No segundo, pela reabilitação de seus direitos políticos e a surpreendente vitória contra um candidato disputando à reeleição à presidência. Lula 3, portanto, é diferente dos demais e não é somente o resultado de um nordestino que deu certo em São Paulo. Esse Lula é aquilo que ele demonstrou em sua última campanha: uma pessoa extremamente ressentida e raivosa como deixou claro em diversas ocasiões, incluindo a que falou com todas as letras que não descansaria enquanto não “f…” o ex-juiz Sérgio Moro. Paralelo a isso, Lula também não esconde o desejo de retribuir àqueles que lhe foram – e são – caros. Poucos ministros tiveram esse privilégio – a maioria ele recebeu de presente – mas não parou aí. Derrubando a Lei das Estatais ele colocou Aloísio Mercadante da direção do BNDS e depois emplacou a ensacadora Dilma Roussef na presidência do banco dos Brics. Eis que agora ele assina um desejo que fez corar até jornalistas entusiastas da Vênus Platinada. Como rei, quer a indicação à presidência de uma companha privada o desastrado Guido Mantega. O mercado desde ontem está de pernas para o ar. Foi uma derrapada feia e imprevista, mas esse é o Lula 3, para quem fez o L ou não.
Roberto Lucato
Foto: Ricardo Stuckred