Populismo em baixa
EDITORIAL
Os sindicatos, em teoria, são associações de representatividade. Mas isso não significa que sejam do chamado “bem”. Na década de 1930, quando uma vigorosa depressão jogou a economia dos Estados Unidos para o buraco, literalmente, apareceram os “sindicatos do crime”, décadas mais tarde inspirando, na América do Sul, associações que defendiam os interesses do narcotráfico. Distantes destas intenções criminosas, na metade do século passado, outro tipo de “sindicato” surgiu na Europa e mais tarde nas Américas. Eram entidades que representavam as classes operárias, cujos objetivos eram predominantemente reivindicatórios. A depender da atividade abraçada, alguns se fortaleceram e se tornaram gigantescos, despertando a cobiça dos políticos. Peronismo e petismo, respeitadas as devidas “desproporções”, nasceram destes interesses, conseguindo, cada um a seu modo, atrair a fidelidade de uma parcela do eleitorado até hoje. Outro ponto em comum, a defesa dos menos favorecidos, tem merecido releituras, porque impor ao setor empregatício essa conta salgada criou dois problemas fundamentais: queda de contratações e aumento das demissões. Na Argentina, por exemplo, o cobertor social incrementado pelo governo Fernandez foi irresponsavelmente aumentado – o gasto que não chegava a 1%, neste final de ano está em torno de 4% do PIB. Isso impulsionou o rombo das contas públicas e alimentou uma espiral inflacionária suficiente para destruir o valor nominal do peso. Por isso, seria difícil acreditar que os eleitores optassem pela permanência de um ministro da economia na função de presidente porque, lá, aqui ou em qualquer país, bons indicadores mantêm governos, mas o principal se comunica com o poder de compra. Porém, se a alternância de poder era previsível, ela levou a Casa Rosada um político com pouca experiência, mas com uma enorme capacidade de verbalizar o que pensa, o que agradou aqueles que desejam uma mudança radical. Do ponto de vista do simbolismo, a vitória de Javier Milei impulsionará outras candidaturas que se oponham à velha esquerda, a principal delas de Donald Trump. Por aqui, ainda que es eleições presidenciais estejam distantes, já houve gente postando na internet a seguinte máxima: “se eles acabaram com o populismo peronista, podemos fazer o mesmo aqui”. A conferir, mas uma coisa é carta: a Argentina não será a mesma nos próximos anos.