Enem: o interminável embate ideológico

Enem: o interminável embate ideológico

EDITORIAL

Neste dia 12 acontece a segunda prova do Enem, e tomara não com vazamentos, como ocorreu domingo passado. Mas a questão é outra, e mais uma vez está ligada a chamada “contaminação ideológica”. Acompanhei um debate muito interessante no começo da semana de jornalistas que se colocavam de todas as maneiras em relação a esta prova. Um deles, de maior sensatez, observou que o Enem de certa forma democratizou o acesso às universidades, oferendo vários exemplos. Um jovem que resida em lugarejos menos favorecidos econômica e socialmente tem a oportunidade, se estudar bastante, de ingressar na Universidade Federal de Brasília, de onde falava. Do ponto de vista inclusivo essa era uma excelente notícia, mas quando a discussão virou para o lado ideológico, um comentarista simplesmente disse que, para ele, o Enem deveria acabar. O motivo, pelo seu aspecto “doutrinador”. Para este jornalista e escritor, o exame em mãos petistas serve apenas para indicar soluções progressistas e, em suas palavras, “isso não é avaliação de conteúdo, e sim de preferência partidária”. Observou, por exemplo, que Caetano Veloso, “um militante da esquerda”, disse sobre a questão que envolvia uma de suas letras: “todas as alternativas me parecem corretas”. Claro que Caetano fez uma brincadeira, provocado que foi por sua mulher, mas o problema é que os detentores do poder dirigem, sim, o que administram. E o MEC, vamos combinar, não foi exatamente uma prioridade do governo anterior, que perdeu muito tempo confrontando-se com ideologias. Tanto é que polêmicas envolvendo o Enem também aconteceram, com perguntas mais alinhadas à direita. Para concluir, os comentaristas se referiram à volta do pensamento doutrinário de Paulo Freire. Sem meias palavras, um deles lembrou que o educador foi um dos responsáveis pelo regime de progressão continuada nas escolas, ou seja, aquele no qual as chances de repetência são mínimas: “isso fez com que minha mulher, desde então, tivesse vergonha de lecionar”. É isso aí. O debate polarizado segue acalorado, e não terminará tão cedo.

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