Mãe e madrasta
Ponto Um
Todos aqueles que habitam nessas terras de Tatuibi possuem uma relação particular com a cidade. Muitos começaram seus estudos aqui, constituíram famílias, fizeram carreiras brilhantes e, com a força dos braços e o poder do raciocínio, em Limeira ganharam o pão de cada dia. Mas, sinceramente, já foi a época em que meu entusiasmo com a cidade era maior. Talvez por sua característica mutante, ora berço da citricultura, ora capital do folheado e agora, acreditemos ou não, a terra da coxinha, nosso município perambula em busca de identidade própria. E o que é pior, pouco tem valorizado seus filhos como poderia, porque se tanto fazemos em prol da cidade, o que ela tem feito por nós? Tenho ouvido, com muita frequência, limeirenses dizendo que Limeira é uma péssima mãe e uma excelente madrasta. Talvez essa meia verdade esteja no fato que nem toda a madrasta seja ruim, como são outras lendas como a do Frei João das Mercês e das coxinhas – elas, de novo – terem sido inventadas aqui. Porém, objetivamente, é fato que cada vez mais nossas organizações civis estão se enfraquecendo, sejam clubes de serviço, sociais, associações de classe, até os diretórios políticos locais estão assim. Muitos limeirenses parecem cansados de lutar contra um sistema não inclusivo de natureza alguma. Um establishment formado como se configurado apenas para o proveito de um seleto grupo, que vive neste mundo de Poliana. Foi-se o tempo dos grandes debates, das discussões acaloradas na Câmara Municipal, de entidades que cobravam, inclusive na Justiça, suas demandas. Limeira é uma cidade apática como nunca esteve em quase duzentos anos de vida. E escrevo isso com alguma tristeza, com os fundamentos de quem acompanha o dia a dia desta cidade há mais de 40 anos como jornalista. Claro, existem setores que caminham bem, obrigado. O de Cultura, em especial, iluminação pública, e quais mais? Segurança? Definitivamente não. Mobilidade urbana? Também não. Conservação de praças públicas? Deixa pra lá. O que está havendo conosco? Por que não cobramos melhor desempenho de nossa própria cidade? Por que estamos permitindo essa falta de humanização? Por que seguimos acreditando em pessoas que insistem em dizer que está tudo bem? Sim, posso estar envelhecendo precocemente, como de fato estou, e como isso menos otimista em relação ao futuro, mas gostaria de escrever sobre o aniversário de uma cidade que conheci no passado, e que não a identifico mais. De qualquer forma, parabéns a quem realmente restou dos tempos idos que não voltam mais.