Descanse em paz?

Descanse em paz?

A morte impõe o silêncio da eternidade. Como não sabemos quando isso chegará, enxergá-la com alguma objetividade pode evitar, aos sobreviventes próximos, situações constrangedoras, desídias e algo até certo ponto comum: rompimentos provisórios ou definitivos. Do ponto de vista afetivo não hás muito o que fazer. O que restam são memórias, fotos, filmes e escritos, mas sobre a questão patrimonial, o “pós morte” cria cenários algumas vezes bizarros. Previsto pela legislação, o testamento é uma das maneiras de se adequar a vontade daquele não poderá mais manifestá-la, mas nem sempre proporciona um céu de brigadeiro para os que ficam. O que está acontecendo na disputa pelo patrimônio de Gugu Liberato parece coisa de cinema, ou daqueles seriados de suspense da Netflix. O apresentador aparentemente fez o que lhe cabia em vida. Determinou que 75% de seus bens fossem divididos entre seus três filhos e o restante entre os seus sobrinhos. Os motivos que o levaram a excluir de sua herança a mãe das irmãs gêmeas e do menino foram estritamente pessoais, e não cabe julgamento público, ainda que possa parecer enorme uma injustiça. E para saná-la, a mãe promove uma ação de reconhecimento de união estável, para viabilizar um mecanismo de acesso à herança. Ocorre que, antes deste desfecho, a Justiça validou o testamento de Gugu, que a exclui, e agora surgem novos capítulos constrangedores, para se dizer o mínimo. Um suposto companheiro do apresentador pleiteia o mesmo de sua “esposa” informal e um comerciante de carros, surpreendentemente, alega ser fruto de um relacionamento de Gugu quando jovem. Ou seja, essa enorme confusão terá de ser resolvida pela Justiça e seu desfecho terá importância na medida que poderemos compreender, nos dias de hoje, como são tratados os relacionamentos homoafetivos, suas consequências hereditárias, novas definições para união estável e como um testamento se impõe como algo definitivo, e não apenas como um mero desejo. Viver, portanto, é bom e ao mesmo tempo perigoso, mas morrer, também, pode abrir cenários misteriosos como é a própria morte.

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