Ideologia, a dúvida
Lembro de ter feito menção à cena patética protagonizada pela jornalista Eliane Cantanhede poucas semanas depois da eleição. Mesmo antes de sua posse, Lula participou de um encontro ambiental sinalizando que a proteção da Amazônia seria uma das prioridades de sua administração. Cantanhede, como chefe de torcida organizada, rasgou elogios para o retorno do Brasil à agenda climática mundial, cantando ao final de seu comentário o famoso refrão entoado pelos fanáticos: “ôooooo, o Brasil voltou, o Brasil voltou, o Brasil vooooô”. Semanas depois, sua colega Miriam Leitão referiu-se a “volta à normalidade” depois que o mandatário convidou jornalistas para um café-da-manhã. Passados alguns meses, elas e outros colegas de profissão apresentam agora dificuldades em elogiar o Lula 3 porque segue confusa a terceira passagem do petista pelo Palácio do Planalto. Ele parece governar com aflição, segue errático na condução da política internacional e não fechou os devidos flancos no Congresso Nacional. Emite, ainda, sinais de antecipação desastrosa – como fez na queda do valor dos automóveis, contribuindo na paralisação do setor –, e agora planeja voos mais altos, claro, dentro de um novo avião. O atual deve estar pequeno para o seu novo ego e agora ele insiste – porque continua incentivando a conflagração – para que seus apoiadores participem de um a luta do “bem contra o mal”, como se as pessoas que não lhe deram voto estejam na segunda categoria. Lula, portanto, segue como um touro indomável, lembrando os melhores momentos de Robert de Niro no filme dirigido por Martin Scorsese na década de 1980, porém não se exerce a presidência em um ringue de box. É que, além dos problemas habituais decorrentes do espinhoso cargo, entre as mudanças que se instalaram na sociedade, a principal delas está no campo das ideias, assunto que será concluído no próximo comentário.