Um passado em desconstrução
É um processo doloroso, abordávamos ontem, o tal “cancelamento” especialmente na velhice. E são diversos os motivos. Impaciência dos mais jovens, teimosia dos mais velhos, o fato é que ninguém gosta de se sentir excluído em qualquer idade, mas há uma questão pendular que se sobrepõe a isso: a insistência infrutífera ou a não aceitação. Exatamente sobre estes dois temas trataremos neste final de semana, mas o caso concreto de hoje tem a ver com o presidente Lula. Por pouco, por muito pouco mesmo, como diria o locutor Fiore Giuliotti, Lula não teve desconstruído o seu pomposo ministério. A insatisfação dos deputados com seus representantes no Congresso nunca foi tão forte e cristalina, e poderíamos classificar este resultado como negligência do presidente? Nem tanto. Claramente, do alto de dois mantados e responsável por colocar uma ameba para dirigir o Brasil, Lula não se importa mais com o chamado “café pequeno”. Sua agenda internacional, seu desejo por capitanear uma “latinoamerica” e as indicações de restabelecimento do velho PT nas hostes do poder, com direito ao retorno de pessoas e esquemas, indicam que ele se considera mais do que é – e o que não pouco, do ponto de vista histórico. O que ele não sacou, ainda, é que em vinte anos tudo muda. A começar do perfil dos congressistas, que demonstraram inequivocamente desconsiderar o seu passado ou sua obsessão pela pobreza. Os deputados querem mesmo saber o quanto o seu governo tem no cofre, o quanto pode oferecer e quantos cargos devem leiloados, e rapidamente. Querem também aparecer nas fotografias durante inaugurações, algo que seu entorno evita. E, finalmente, querem o presidente no “chão da fábrica”. A história do presidente, portanto, está cancelada para este grupo emergente, como seu discurso para os líderes da América Latina, antigo e empoeirado. A terceira gestão de Lula se assemelha, e muito, com a derradeira passagem de Jurandyr Paixão pela prefeitura de Limeira, desconstruindo uma boa imagem.