A autocracia venezuelana

A autocracia venezuelana

Faz algum tempo fora registrado, neste mesmo espaço, o que disse o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, sobre as esquerdas da América Latina: em sua opinião, elas envelheceram. Do ponto de vista cronológico, todos nós envelhecemos, mas Mujica se referia as ideias especialmente construídas em um passado relativamente distante. Portanto, se a Guerra Fria, instalada na década de 1960, dividiu o planeta entre capitalistas e comunistas, hoje o cenário está diferente, com o predomínio de uma subcategoria de forte viés nacionalista. Nestes grupos, sob o manto da proteção de valores culturais, territoriais e patrióticos, surgiram não apenas os seus defensores, mas os chamados usurpadores de plantão. Entre os quais, autocratas que se utilizam de mecanismos de aniquilação econômica de suas nações para a permanência no poder – quando não manipulam os resultados nas urnas com o mesmo objetivo. Nicolás Maduro, paparicado pelo presidente Lula desde ontem, representa estes dois polos, curiosamente, pois integra a esquerda envelhecida – na qual sobrevive o mandatário brasileiro – enquanto mantém uma autocracia às custas da falência do estado. Porém, Maduro é pior que um simples ditador, porque nada fez para manter os venezuelanos em seu próprio país. Fechou seus olhos enquanto famílias fugiram como se em guerra estivessem, tentando em outros territórios não a prosperidade, exatamente, mas alimentação e banhos. Esses venezuelanos, que estão às centenas aqui mesmo em Limeira, pedindo moedas nos semáforos, são o triste exemplo de como a esquerda envelhecida desassistiu seus filhos, e como as ditaduras atendem apenas aos interesses daqueles que gravitam em torno do poder. Mas, tudo isso será esquecido ao longo desta terça-feira, quando o presidente brasileiro dedicará seu precioso tempo para ouvir discursos nacionalistas, falaciosos e bem de encontro com aquilo que a esquerda sempre desejou, lutar contra o imperialismo de cima, enquanto permanecem pintadas de democracia, aqui embaixo.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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