Apenas um pano de fundo, infelizmente

Apenas um pano de fundo, infelizmente

EDITORIAL

Enquanto governadores pertencentes a chamada “direita” soltam seus balões de ensaio em forma de pré-candidaturas, o governo trabalha incessantemente para disciplinar – ou chamar de “sua” – as chamadas redes sociais. E sempre quando esse assunto ameaça virar lei existe uma justificável gritaria emanada pelos chamados “defensores da liberdade”. O assunto é tão polêmico que, desde o início da gestão Lula 3, nem parlamentares, nem governo conseguem construir um texto capaz de pacificar o assunto. Os motivos são diversos, porém, há algo que poucos levantam que é chamado regramento moral. E aqui nasce a primeira confusão. Quando virou moda falar em comportamento “politicamente correto”, isso significou definir uma forma na qual as pessoas deviam se moldar para tratar de determinados assuntos. Diminuíram, à partir daí, as piadinhas infames que feriam as chamadas minorias, o que não deixou de representar um grande avanço, uma vez que, disso, nasceram algumas leis punitivas contra o racismo, a misoginia e outras manifestações de preconceito. Mas, há um paradoxo aqui: se o comportamento “esperável” de qualquer cidadão ficou “encaixotado”, como ele pode exercer sua liberdade plena? Durante o embate comercial entre Brasil e Estados Unidos, surgiu em paralelo a discussão sobre a “liberdade irrestrita”, o que é possível lá, e não aqui. Por isso as “big techs” não se esforçaram, em tempo algum, em melhorar seus níveis de monitoramento, até porque devem ter se perguntado: monitorar pra que? O que o governo quer, agora, não se trata de defender crianças e adolescentes no uso das redes: é usar uma discussão que ganhou força na mídia para impor, finalmente, normas que venham a beneficiar os progressistas nas eleições de 2026. Em todos os aspectos, desde comerciais à editoriais, e é isso que estará em discussão nas próximas semanas. Jovens, agora, são “apenas” um pano de fundo.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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