O país das oportunidades ($)
EDITORIAL
Bem antes da estreia do Brasil na Copa de 2014 a “ensacadora” de ventos Dilma Roussef já havia feito o último gol contra de sua carreira política, qual seja, conduzir o Brasil a uma das mais severas crises econômicas de sua história. Porém, “crises” abrem oportunidades, dizem os especialistas em motivação empresarial, mas no caso brasileiro existem outros significados. Para a construção dos estádios da Copa, caminhões de dinheiro chegaram à empreiteiras que prospectaram a entrada de dinheiro fácil: o calendário apertado forçou a dispensa de procedimentos obrigatórios como licitações quando o dinheiro público esteve envolvido – incluindo financiamentos de bancos estatais. Durante a pandemia, a crise sanitária encheu os cofres de empresas ligadas a equipamentos médicos. Uma delas, localizada em Itapira, aqui pertinho, dobrou sua plante industrial em pouco mais de um ano. Agora, outra “janela” de oportunidades se abriu no coração da Amazônia, com a festejada COP 30. A menos de dois dias, um manifesto assinado por duas dúzias de países pleiteou o deslocamento da conferência para outro lugar do Brasil. Hotéis estão cobrando entre mil a dez mil Reais por uma mísera diária. Isso inclui motéis, que estão adaptando suítes eróticas para que sejam mais discretas quando receberam autoridades internacionais. O Brasil bate o pé e diz que não mudará nada. Explica-se. Fazer uma conferência de dimensões internacionais no meio do nada é o melhor cenário para a roubalheira. Reportagens pela televisão mostram o ritmo acelerado das obras de infraestrutura e, ao vê-las, não dá para imaginar outra coisa: quantas pessoas e empresas ligadas ao governo paraense ao governo federal não estariam satisfeitas com tudo isso? Já imaginaram a dinheirama que está sendo injetada para que tudo isso se torne minimamente visível daqui a cem dias? O Brasil é o não é um país de oportunidades? Porém, enquanto alguns se enriquecem ainda mais, outros fatores estão na mesa: o que leva um país a gastar – ou não – dez vezes mais para participar de uma conferência que, todos sabem, não levará a lugar algum? No comentário der amanhã, algumas explicações, incluindo a recusa da Áustria em participar.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik