É tudo uma questão de tempo, lamentavelmente

É tudo uma questão de tempo, lamentavelmente

EDITORIAL

Lamentavelmente – e bota lamentavelmente nisso – um incêndio consumiu boa parte do Mercadão de Piracicaba na madrugada desta quarta-feira. Viaturas do Corpo de Bombeiros das cidades vizinhas foram acionadas para darem suporte e, aparentemente, tudo está controlado. E isso se deu cinco anos depois uma tragédia semelhante acontecer em Limeira, cicatriz ainda aberta por aqui. A contagem dos prejuízos se dará com o passar dos dias, e isso entristece não apenas quem teve perdas materiais, mas, somando-se a essas pessoas, estão milhares de outras que mantém uma relação de carinho com aquele espaço comercial. É o meu caso. Não raramente, nas manhãs de domingo, apreciava passear até lá com minha mulher, que faz uma espécie de “menu degustação” nas pastelarias antes de comprar algumas frutas e, diferente do que tínhamos aqui, o Mercadão de Piracicaba era mais típico. Primeiro porque, diferente daqui, não era infestado de lojas de roupas e sapatos, sequer de brinquedos. O que mais se via eram açougues, lojas de temperos, de massas e comidas prontas, floriculturas, peixarias e, claro, espaços para frutas e verduras. Além de uma peculiaridade: quinquilharias antigas, como objetos de cozinha, que são encontrados apenas em mercadões. Com o tempo, e isso é uma pena, os mercados são descaracterizados por uma questão de demanda e consumo, como aconteceu com o próprio Mercadão de São Paulo, hoje mais um ambiente turístico do que qualquer outra coisa. Repleto de lanchonetes que capricham aqueles grotescos sanduiches de mortadela, do tipo “nada a ver”. Porém, voltando à Piracicaba, tomara que, passada a tristeza chegue o tempo de reconstrução, algo que demora para acontecer por aqui por inexplicáveis razões. Existem, é verdade, trabalhadores empenhados na conclusão do teto do Mercado, obra que já é visível, mas segue em ritmo lento. E lá? O Mercado é público, privado, a quem caberá a restauração? Quem fiscalizava as condições de segurança? Em Limeira, até hoje, muitas perguntas ficaram sem respostas, e lá, como acontecerá? Dias atrás falávamos que somos uma geração sobrevivente dos antigos circos, e dá para traçar um paralelo: o fim dos mercadões não se dá por falta de público, mas porque as improvisações e gambiarras substituem critérios técnicos de segurança, sempre muito onerosos, porém necessários.

Roberto Lucato

Foto: Edijan Del Santo – EPTV – Reprodução G1 Piracicaba e Região

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