Janja, uma nova Ofélia
EDITORIAL
Com razões objetivas, Jair Bolsonaro foi muito criticado, entre outros movimentos, por desconectar o Brasil com o exterior. Ele optou em fazer poucas viagens e sempre quando as fez, se reuniu com líderes alinhados com o pensamento conservador. Fez exceção, não se sabe muito o “porque”, ao se pronunciar na ONU, mas aí, convenhamos, era um tablado e tanto. O direcionamento do ex-presidente, em termos econômicos, não pode ser medido, ou seja, se o Brasil perdeu disputas internacionais ou deixou de atrair investimentos, não há como saber. Até porque os interesses da iniciativa privada, quando existem neste âmbito e tamanho, não são discutidos com um presidente da República. Interlocutores de multinacionais, lobistas e beneficiados – inclusive nacionais – se dirigem ao chamado “segundo escalão” para construírem as pontes que lhes interessa. O presidente Lula, ao contrário de seu antecessor, adora estar fora do Brasil. Tanto é o seu interesse por viagens internacionais que, no mandato anterior, ao bater seus próprios recordes de “milhagem”, preferia levar uma “auxiliar”, muito próxima, à sua mulher, talvez para se sentir mais seguro ou satisfeito. Janja, que de boba só tem a cara, leu atentamente esse aspecto biográfico do marido e assim, trata de se deslocar antes para saber se não será surpreendida por uma rival. Entretanto, de vez em sempre ela deixa o papel de cuidadora de idosos e não contém a sua euforia durante cerimônias protocolares. Claro, se excedendo, e desta vez ela pontuou negativamente o desfecho do giro do marido com seus amigos da real cortina vermelha. Ao “pedir a palavra” durante um jantar no qual se eram possíveis apenas comentários triviais como o sabor da refeição ou da qualidade dos vinhos, ela tirou da cartola um emaranhado de críticas ao Tik Tok, emparedando nada menos que o Xi Jinping. Até agora o presidente Lula não sabe quem “vazou” mais uma gafe internacional da mulher, que teve requintes de inteligência na resposta do líder Chinês. O presidente do partido comunista disse que o Brasil era livre e soberano para disciplinar o uso da plataforma, algo que até hoje os progressistas não conseguiram fazer. Janja sabe como desfrutar do poder, mas é uma espécie de nova “Ofélia” quando abre sua boca.
Roberto Lucato
Ilustração: Reprodução YouTube