Fantasmas da guerra
EDITORIAL
Dizem, com muito acerto, que a história é narrada pelos vencedores. Por isso não faltam, na literatura contemporânea europeia ou nos estúdios cinematográficos norte-americanos, obras relativas a segunda Grande Guerra. Algumas se destacaram ao longo dos anos. No cinema, a mais conhecida deve ser Pearl Harbor, um remake lançado em 2001 descrevendo o massacre japonês imposto à base norte-americana no final de 1941; como registrado no filme, “despertando o leão adormecido”. Ninguém foi capaz de imaginar, com clareza, se o ingresso dos Estados Unidos tenha sido crucial para o fim do conflito, porque daqueles bombardeiros até 7 de maio de 1945, data da rendição dos alemães, milhões ainda morreriam. Mas, o fato concreto é que três episódios foram determinantes para isso, dois deles com participação direta dos americanos. O primeiro, a tomada da Normandia, em junho de 1944, possibilitando o início da liberação da França. O terceiro, datado de agosto de 1945, o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, descortinando ao mundo o poder nuclear. E, o segundo, ocorrido exatamente há 80 anos, foi o suicídio de Adolf Hitler. Acuado cada vez mais pela invasão do Exército Vermelho em Berlim, o líder nazista refugiou-se, durante meses, em um bunker especialmente preparado para o “fuhrer”. Embora, segundo historiadores, sua decisão tenha sido tomada antecipadamente, a aparente decisão se deu porque, uma semana antes, Benito Mussolini fora capturado ao lado da amante Clara Petacci. E assim, fuzilado ao lado dela, tendo seu corpo exibido ao povo, em Milão, pendurado de cabeça para baixo. Hitler não se sujeitaria a tamanha humilhação, decidindo matar Eva Braun com cianeto e tirar a própria vida com um tiro na cabeça, dando instruções para que seu corpo não fosse encontrado. Há um filme russo que descreve com precisão a invasão soviética em Berlim e hoje em dia, sobre o “fuhrerbunker” existe apenas uma bucólica praça de estacionamento. Não é um ponto turístico, nem deveria ser, como a data do suicídio de um lunático, para se dizer o mínimo, deva ser reverenciada. Mas a história, contada por quaisquer dos lados, sim. Porque, ao longo dos séculos, as guerras foram essencialmente motivadas por expansão territorial e consequentemente obtenção de riqueza. Porém, Hitler introduziu outro componente para chegar a esses mesmos objetivos: a supremacia étnica. Oitenta anos depois, a humanidade ainda apresenta líderes que flertam com essa perigosa e repudiante ideia. Não aprendemos nada, então.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik