Entendemos de alimentação
EDITORIAL
Não causaram propriamente “espécie” os dados revelados pelo DataFolha sobre hábitos alimentares dos brasileiros. A amostragem revelou que pouco menos de 70% dos entrevistados alteraram para baixo o consumo de alimentos; para 61%, comer fora de casa ficou inviável; outros 50% mudaram o consumo de café, redirecionando compras para marcas mais baratas enquanto para o mesmo número de avaliados, houve diminuição da compra de bebidas. Vamos compreender agora o “consumo de alimentos”. Quase sete entre dez brasileiros compram menos alimentos segundo o DataFolha, e existem dois aspectos neste ponto. Quando se faz refeições em casa, a composição do cardápio é comandada, faz tempo, por produtos em promoção. No mercado de proteínas, por exemplo, esse exercício é semanal: quando uma carne de boi é oferecida por um preço mais baixo, sendo mais dura, o seu lugar será na panela de pressão ou se transformará em “carne moída”, simples assim. Nos cortes de frangos, faz tempo que os grandes conglomerados os oferecem congeladas em pacotes econômicos: o cozinheiro só tem o trabalho de retirar do congelador aquilo que fará. Isso faz parte da educação culinária, que também evita o desperdício e promove o aproveitamento de praticamente tudo o que se coloca em uma bancada. Por esse aspecto, portanto, o “comprar” menos pode estar relacionado a outros itens que não sejam de necessidades nutricionais, como bolachas, chocolates em barras ou maioneses. Para quem pretende manter a boa forma física, isso pode até ajudar. Entretando, em relação ao segundo aspecto, refeições feitas fora de casa estão absurdamente caras. Em média, em Limeira, o quilo chega a 99 Reais em alguns restaurantes, e o que isso significa? Que tudo o que cliente coloca em seu prato, incluindo alface, tomate, feijão e ovos fritos, custa quase 100 pratas por quilo. Um enorme problema para pessoas que não conseguem se alimentar em seus próprios lares; em uma chamada conta de padaria é fácil deduzir-se que, esse cidadão, deixará quase meio salário-mínimo nos restaurantes que frequenta ao longo de um mês, e isso se não abusar da compra de sucos ou refrigerantes. A alimentação nunca foi barata no Brasil e os consumidores, principalmente aqueles que passaram por tantos planos econômicos até a vinda do Real, aprenderam a driblar as pegadinhas, as ofertas fantasiosas e sabem perfeitamente quando é hora de ser mais criterioso em suas escolhas. É o que acontece, de novo, agora.
Roberto Lucato
Ilustração: Agência Brasil