Logística, ainda inacabada no Brasil
EDITORIAL
A Rodovia Anhanguera, no sentido Interior, é uma “reta só” depois de Pirassununga. Curiosamente, neste trecho as grandes redes não se estabeleceram, exceção feita a uma unidade do Frango Assado localizada a poucos quilômetros de Ribeirão Preto, sentido Capital. Portanto, os motoristas só encontram postos e restaurantes fundados há décadas, a maioria deles em estado deplorável. Uma péssima notícia especificamente para as mulheres, que não encontram um banheiro em condições de higiene aceitável. Sendo assim, não há outro jeito se não sair da pista para verificar “in loco” essas urgências. Mas um fato curioso ocorreu em minha volta da “Califórnia Brasileira”. Depois de percorrer pouco mais de cem quilômetros, entrei em posto com a bandeira Petrobrás onde se espremiam dezenas de caminhões. Dava para ver, por entre as bombas, um pequeno restaurante, mas aí o inusitado. Por onde quisesse passar, não dava. O acesso estava totalmente obstruído pelos “cavalos de aço”, como se fosse algo premeditado. Não era. Curiosa como sempre, minha esposa me fez parar para perguntar o que estava acontecendo, se apresentando como jornalista. O caminhoneiro que nos atendeu, gentil, mas visivelmente entediado, desabafou: “Vocês são jornalistas? Pois então vejam o que acontece quando estamos nesta região. Os postos são antigos, não há áreas de descanso para nós e, para complicar, quando caminhões maiores chegam nas bombas, involuntariamente eles obstruem toda a passagem. Chegamos a perder horas para encher o tanque enquanto as manobras acontecem. É uma vergonha. O Brasil não olha para isso. Não temos a menor infraestrutura para o transporte rodoviário. Por que o governo não fala sobre isso?”. De fato, é um problema e tanto, porque estamos habituados com trechos de estrada mais modernos, nos quais se instalaram redes que pensaram nisso. E, concordando com o caminhoneiro, pouco se fala sobre integração rodoviária nacional no Brasil. Mesmo com diversos trechos sob a administração da iniciativa privada, parece não haver um conjunto de exigências para um atendimento preferencial aos caminhões de carga pesada, que fazem do transporte seu meio de vida. Se aquele caminhoneiro disse que não raramente ele “cozinha” quase meio-dia na boleia, quanto tempo se perde, no geral, para o transporte das cargas? Isso é custo, não é? Isso é logística, não é? Isso é o Brasil, não é?
Roberto Lucato
Foto: Porto de Santos