O Grande Ditador, versão atualizada
EDITORIAL
Em 1972, Charles Chaplin foi aplaudido por 12 minutos em uma cerimônia do Oscar. A plateia, em pé, não cansou de reverenciar um dos maiores gênios da sétima arte; enquanto isso, emocionado, ele “disse” com seus olhos: “obrigado, não precisam mais aplaudir, está bom”. Carlitos, seu principal personagem, foi o maior representante do cinema mudo, deixando imortalizadas obras como Luzes da Ribalta, Tempos Modernos e Monsieur Verdoux. Porém, em 1940, ao dirigir, roteirizar e produzir O Grande Ditador, ele se superou ao interpretar dois personagens: um barbeiro judeu e o ditador fascista Adenóide Hynkel, que implementava políticas antissemitas em um país fictício. Os Estados Unidos ainda não haviam entrado na Segunda Guerra e Chaplin, mesmo desconhecendo o que o mundo assistiria durante os cinco anos seguintes, satirizou, em forma crítica, o nazismo e seu principal fiador, Adolf Hitler. Inúmeros países impuseram censura a sua obra, inclusive o Brasil, governado por Getúlio Vargas, mas o fato é que o Grande Ditador trouxe problemas ao gênio. Devido à mensagem da obra e principalmente o conteúdo do discurso que a conclui, pregando a paz e a concórdia, Chaplin pagou um alto preço sendo banido pelos norte-americanos até refugiar-se na Suíça. Os 12 minutos de aplausos talvez tentassem reparar o erro grotesco cometido 30 anos antes, nunca saberemos, mas a sensibilidade “Chapliniana” ultrapassou os limites de sua época. Na ocasião ele não fez apologia a qualquer ditador, mas zombou de quem se julga soberano a ponto de decidir, por exemplo, os eleitos para a vida e os condenados para a morte. Na verdade, são essas pessoas que, de tempos em tempos, tentam impor ideias que não se coadunam com os mais elementares pilares da humanidade. Da vida em sociedade de maneira organizada e pacífica. Se pensarmos bem, o mundo sempre proporcionou um ambiente perigoso para os seus habitantes, e nele estarão, até o final dos tempos, estoicistas com suas manias, até neoimperialistas derivados. O que acontece hoje nos Estados Unidos é, apenas, mais um ponto fora da curva. Virão outros.
Roberto Lucato – Ilustração: Reprodução “Papo de Cinema”