O Tetra, 30 anos depois

O Tetra, 30 anos depois

NA GRANDE ÁREA

MUITA GENTE diz que não dá para comparar gerações no futebol, ou seja, de tempos em tempos o chamado “esporte bretão” se atualiza e se aperfeiçoa, não necessariamente nesta ordem. Estou neste time, mesmo porque, para o torcedor, o que fica na memória é aquela formação que deu certo. Que ganhou ou perdeu “por azar”.

E AQUI está a primeira pergunta: devemos colocar no pedestal apenas os campeões? Isso sempre será relativo, porque enquanto a geração que viu craques como Zico, Falcão e Sócrates não ganharem uma Copa do Mundo, insistirão em dizer que foi a melhor formação de todos os tempos.

JUCA Kfouri escreveu um comentário esta semana revelando um particular da campanha do tetra, cuja comemoração dos 30 anos do título ocorreu dia 17. O comentarista disse que, antes do duelo final contra a Itália, ele foi convidado a tomar o café da manhã, no hotel em que se hospedava, com Romário e Dunga.

ESTRANHANDO, ele foi mesmo assim. Em resumo, os dois lhe disseram que o tetra estava próximo, porque a geração de 1994 iria comprovar que era vencedora, diferente do “fracassado” elenco de 1982. Juca fez outro comentário, desta vez narrando sua reação ao chegar ao Rose Bowl sendo zombado por comentaristas italianos.

ESSE grupo lhe mostrou um sinal com três dedos nas mãos, referência aos 3 a 2 de Sarriá. Juca ficou indignado, mas não reagiu, apenas quando Roberto Baggio isolou a última cobrança de pênalti. Ele olhou para trás, disse um palavrão em italiano e, provavelmente, mostrou-lhes apenas um dos dedos.

POR ISSO comparar é complicado, e coloco um outro ingrediente. O lateral Branco concedeu uma longa entrevista à rádio CBN domingo passado, falando dos bastidores do tetra até que se deparou com a seguinte pergunta: Branco, apesar do tetra, muita gente diz até hoje que a seleção de 94 não era empolgante. O que tem a dizer sobre isso”?

BRANCO vinha de contusão e fazia sua última Copa do Mundo. Contou que o Dr. Lidio Toledo, médico da seleção, não apenas o recuperou em tempo hábil, como disse que ele seria muito importante, em algum momento, naquela competição. Leonardo, que o substituía, foi expulso contra os Estados Unidos, dando lugar ao verdadeiro titular. Todos se lembram, Branco salvou o Brasil contra a Holanda ao mandar aquele torpedo para fazer 3 a 2.

SEGUNDO suas observações, Carlos Alberto Parreira era extremamente metódico, tanto que seus treinos táticos eram chamados de “cháticos”. Ele gostava de repetições como se quisesse que os jogadores “decorassem” exatamente o que fazer com a bola no momento que a recebessem, e sem ela também.

ISSO explica, em tese, porque Zinho foi apelidado de “enceradeira”, de tanto rodar com a bola em torno de si mesmo até encontrar um companheiro para passar. Branco também rebateu que a seleção de 94 tenha sido “Romário e mais 10”. Ele descreveu as características individuais de seus companheiros, um a um, e disse que o Baixinho fez uma dupla extraordinária com Bebeto, ambos cumprindo o que deles se esperava: gols.

NAQUELA década não se falava em “jogar por uma bola”, o que hoje virou comum, mas essa foi a nossa seleção do tetra: comprometida, disciplinada e unida. Quanto à cobrança das penalidades, Branco, um dos batedores, disse que os mais cascudos estavam preparados para aquele momento, e não fugiriam da responsabilidade.

DIANTE de tudo isso, dá para dizer que a conquista do tetra premiou uma seleção “mais ou menos”? Que não nos encantamos com o futebol apresentado? O futebol é atraente exatamente por isso mesmo, porque a qualquer momento pode surgir o “imponderável de Almeida”. Paolo Rossi se aproveitou de um passe errado de Cerezo e fez 2 a 1. Instantes depois, classificou a Itália depois da cobrança de um escanteio: Júnior, que estava embaixo do gol, lhe deu condições.

O BRASIL foi eliminado nas últimas copas porque teve dificuldades de se reorganizar defensivamente. Contra Bélgica e Croácia tomamos gols em contra-ataques, ou não? Portanto, para fechar, comparar épocas e escalações dá uma boa discussão em balcão de bar, mas não leva a lugar algum.

O TIME DE Telê Santana será lembrado eternamente pelo futebol que apresentou, igualmente pelo fato de não voltar ao Brasil com o título. A seleção de 94, porém, está imortalizada por sua eficiência, por tirar o Brasil de uma fila de mais de duas décadas e porque, convenhamos, deu aos brasileiros um dia de alegria imensa. Bom final de semana, amigos!

Imagem: CBF

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